Contra impunidade, delegados federais querem lançar “bancada da Lava Jato”

Bancada Lava Jato

Foi em uma sala de conferências de um hotel no Centro de Curitiba que 13 delegados federais pré-candidatos a cargos públicos na eleição de 2018 se reuniram para discutir corrupção, segurança pública e combater a impunidade para uma plateia composta em sua maioria por delegados federais.

A defesa da classificação de crimes relacionados à corrupção como hediondos, a autonomia da PF e a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 130, de 2007, que prevê o fim do foro privilegiado, independentemente do crime cometido, foram três dos principais pontos defendidos. Isso, em opinião quase unânime, diminuiria a sensação de impunidade perante a população. É por isso que a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) quer criar uma espécie de “bancada da Lava Jato” no Congresso.

Para o presidente da ADPF, Edvandir Feliz de Paiva, a entidade deve contribuir com a sociedade em um momento no qual “não se sabe qual caminho seguir”. “Há uma descrença em nomes, em projetos e em plataformas. Nós temos essa responsabilidade de oferecer caminhos, como um dos órgãos mais respeitados pela sociedade”, afirmou.

Os aspirantes estão filiados a partidos como Rede, PSL, PPS, PR, PDT, PRB e PPL – sendo que o PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro, representa a grande maioria.

“Já é uma iniciativa que está dando certo: lançar delegados federais em todos os estados da federação para que as pessoas tenham opção de voto e não precisem votar em ex-jogador de futebol ou palhaço. Vamos dar a oportunidade de que a população tenha em quem votar”, diz Marcelo Machado Dias, pré-candidato à deputado estadual no Amazonas.

Em defesa da Lava Jato

O fato de o berço da Operação Lava Jato ter sido em Curitiba foi um dos fatores que contou para a escolha da capital paranaense como sede do encontro. “Curitiba tem sido um marco no combate à corrupção” e “me sinto em casa estando em Curitiba” foram algumas das afirmações recorrentes.

“Quantas vezes eu vi a nossa Operação Lava Jato, patrimônio do nosso país, ter sua eficiência comprometida, porque havia a necessidade de buscar autorizações de deslocamentos, de diárias com o ministro da Justiça. Os políticos, muitas vezes investigados, já sabem o que vai acontecer, mesmo que não seja especificado”, afirmou o deputado Fernando Francischini (PSL-PR), defendendo a autonomia funcional da Polícia Federal, seguindo os mesmos princípios do Ministério Público.

Francischini sugeriu que, nos próximos anos, deve-se se focar em como dar mais sustentação à Lava Jato. “Como vamos criar instrumentos jurídicos para que ela possa ir cada vez mais longe?”, perguntou.

O ex-deputado federal Marcelo Itagiba afirma que a Lava Jato, em Curitiba, mudou um paradigma. “Nós não encontrávamos respaldo no Ministério Público e no Poder Judiciário. Aqui, houve o suporte às ações da PF pela justiça. Precisamos continuar fazendo este trabalho”, decretou. “Cada eleitor terá o papel do juiz Sergio Moro em outubro, podendo culpar ou absolver os políticos”, ilustrou o pré-candidato ao senado em Amazonas, Wesley Siriam Lima de Aguiar.

Propostas moderadas e “combate ao PT”

Se, por um lado, houve propostas mais radicais e críticas mais exaltadas, como a de Gastão Schefer Neto – que, recentemente, esteve envolvido em uma polêmica no acampamento pró-Lula, nas imediações da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, ao derrubar os equipamentos de som usados pelos militantes favoráveis ao ex-presidente –, houve propostas mais moderadas e, inclusive, sugestões de investimentos sociais e em educação para reduzir a criminalidade.

“Enquanto a maior parte das pessoas querem combater a corrupção, esse partido [Partido dos Trabalhadores] quer tirar corruptos da cadeia. Vamos votar nos bons políticos, mas aqueles que são criminosos condenados precisam ser varridos e não exaltados como um semideus ou como um deus”, disse Schefer Neto, pré-candidato à deputado federal pelo PSL, referindo-se ao ex-presidente Lula. “Meu lema de campanha será o combate ao PT”, completou ao ser questionado pela reportagem do UOL.

Já o delegado federal Antonio Carlos Cunha Sá, vice-prefeito de Marabá e pré-candidato a deputado estadual pelo Pará, sugeriu a reforma política e das leis de execução penal e processual, assim como o aparelhamento da Polícia Militar. “Mas precisamos olhar para a questão social: o delinquente não pode nascer e, para isso, ele precisa de oportunidade, emprego e educação de qualidade”, diz.

O delegado federal Luciano Soares Leiro defende a realização de mais projetos para a ressocialização de detentos. “Precisamos alterar o Código Penal, a Lei de Execuções Penais, para que o preso pague pelo crime e proteja o inocente, mas que ele tenha a chance de ser reinserido na sociedade”, diz.

Os discursos radicais não foram a maioria, e temas como a liberação do porte de armas para a sociedade civil sequer entraram em pauta.

“Sede de mudança”

Organizado pela ADPF, o encontro propôs estabelecer uma carta de intenções relacionada à segurança, visando que os candidatos à Presidência– assim como os delegados federais — assinem um compromisso de medidas que serão defendidas.

Em um vídeo de pouco menos de 30 segundos, o conceito da campanha, denominada de “O Brasileiro tem sede de mudança”, foi apresentado, mostrando um copo dividido ao meio entre água e óleo. Depois, uma jarra de água é despejada até que fique transparente, com a narração: “Pessoas de bem e corrupção não se misturam. A faxina na política já começou!”.

Os representantes mais notórios eram Fernando Francischini, deputado federal e aspirante a uma cadeira no Senado pelo Paraná pelo PSL – e um dos principais articuladores da campanha à Presidência de Jair Bolsonaro –, além de Marcelo Itagiba, ex-deputado federal pelo MDB e PSDB e ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Ao lado deles, estiveram pré-candidatos a deputado estadual, federal e senador pelos estados de Amazonas, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Distrito Federal. UOL