PROCURADORES VEEM INDÍCIOS DE LAVAGEM DE DINHEIRO EM CONTAS DE NUZMAN

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A quebra de sigilo fiscal de Carlos Arthur Nuzman, solicitada pelo Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) na primeira fase da Operação Unfair Play, há um mês, já permitiu aos procuradores identificarem um “crescimento exponencial” do seu patrimônio. O gráfico que consta na nova denúncia feita pela Força-Tarefa Lava Jato, do Núcleo de Combate à Corrupção, que ilustra esta postagem, mostra inclusive o dirigente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) representado com uma mala de dinheiro.

“O patrimônio pessoal do Nuzman demonstra evolução bem clara. O Imposto de Renda não condiz com renda dele no Brasil ou exterior. Declara que recebia como pessoa física e que tem entrada de receita do exterior, mas não corresponde a realidade. O patrimônio dele fora do Brasil cresce exponencialmente. Ele cita organização de palestras, mas que não condiz com prestação de serviço. Tem conta na Suíça declarada há anos, mas ela cresceu sem demonstração. Além disso, surgiram 16 quilos de ouro (equivalente a R$ 2 milhões) depois da primeira parte da operação”, listou Rodrigo Timoteo, procurador da República, em entrevista coletiva. Os 16 quilos de ouro poderiam fazer medalhas olímpicas até 2028.

Nuzman foi preso nesta quinta-feira em sua casa, no Rio. Ele é acusado de agir em conjunto com a organização criminosa de Sergio Cabral para trazer a Olimpíada de 2016 para o Brasil. Além dele, também foi preso seu “braço-direito”, Leonardo Gryner, e a Polícia Federal também cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de André Richer, ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que assinava convênios em nome de entidade. O COI disse já estudar medidas.

Um relatório citado na denúncia do MPF mostrou que, entre 2006 e 2016, Nuzman viu seu patrimônio crescer 457%, sem considerar a inflação. Se no ano anterior aos Jogos Pan-Americanos do Rio, do qual ele foi presidente do Comitê Organizador, seu patrimônio declarado era de R$ 2 milhões, em 2016, ano da Olimpíada do Rio, no qual novamente esteve no cargo máximo, seus bens já estavam na casa de R$ 7 milhões. Em 2015, um ano antes, haviam ultrapassado R$ 9 milhões.

O documento chama atenção que no ano de 2014 o patrimônio de Nuzman dobrou, com um acréscimo de R$ 4,2 milhões. A maior parte desse valor, R$ 3,8 milhões, é decorrente de ações de uma empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal.

“As declarações de imposto de renda de Nuzman não registram remunerações recebidas do COB ou do Comitê Rio-2016. Por outro lado, Nuzman justifica a origem do seu patrimônio a partir do recebimento de valores de pessoas físicas e do exterior. Contudo, não há explicações sobre quem efetivamente lhe remunerou”, escrevem os procuradores.

Para o MPF, a situação se agravou quando ele enviou uma retificação à Receita Federal, depois de sua casa ter sido alvo de mandado de busca e apreensão, para informar que possuía 16 barras de ouro de 1kg em um cofre na Suíça. Os procuradores argumentam que ele tentou regularizar a situação porque estava ciente de que foram apreendidos elementos que levariam ao conhecimento de tais bens. Entre eles, a chave de um cofre.

A retificação também incluiu os valores em espécie apreendidos na casa dele pelos policiais federais, num total de R$ 480 mil, em cinco moedas diferentes. Ainda assim, os valores são insuficientes, segundo o MPF, para justificar a variação patrimonial de 2014. A omissão seria de, pelo menos, R$ 1,87 milhões.

Além disso, a denúncia mostra que Nuzman costuma pagar suas contas em espécie, o que é, para o MPF, um “engendro característico de lavagem de dinheiro”.