PF abre Operação Piloto, fase 53 da Lava Jato

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Beto Richa é preso, e Lava Jato mira aliados

O ex-governador do Paraná, Beto Richa, candidato ao Senado pelo PSDB, foi preso na manhã desta terça-feira, 11, em Curitiba, na Operação Radiopatrulha do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná. Também foram presos Fernanda Richa, mulher do tucano, Pepe Richa, irmão do candidato, e Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete do Estado. O casal foi levado para a sede do Gaeco e ficará à disposição da Justiça.

O candidato tucano foi alvo de buscas na Piloto e também na Radiopatrulha. A Polícia Federal foi à sede do Palácio Iguaçu atrás de registros de entrada no edifício e nos gabinetes do ex-governador do Paraná. O tucano também teve seu escritório político vasculhado pelos promotores do Gaeco.

O Ministério Público do Paraná cumpre, ao todo, 15 mandados de prisão temporária e 26 mandados de busca e apreensão em Curitiba, Londrina, Santo Antônio do Sudoeste e Nova Prata do Iguaçu. Também foram presos ex-secretários de governo e empresários.

As prisões estão relacionadas a investigações sobre o Programa Patrulha do Campo, entre 2012 e 2014. Segundo o inquérito, há indícios de direcionamento de licitação para beneficiar empresários e pagamento de propina a agentes públicos, além de lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça.

O Ministério Público do Paraná faz buscas em 16 residências, quatro escritórios, um escritório político, quatro empresas e na sede do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR).

Além desta ação do Gaeco, Deonilson Roldo e Beto Richa também são alvos da 53.ª Lava Jato. A Operação Piloto investiga um suposto pagamento milionário de vantagem indevida, em 2014, pelo Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht, o departamento de propina da empreiteira, para agentes públicos e privados no Estado do Paraná. Segundo a Polícia Federal, a contrapartida seria um possível direcionamento do processo licitatório para investimento na duplicação, manutenção e operação da rodovia estadual PR-323 na modalidade parceira público-privada.

As condutas investigadas na Lava Jato podem configurar delitos de corrupção ativa e passiva, fraude à licitação e lavagem de dinheiro. O nome dado à operação policial remete ao codinome atribuído pela Odebrecht em seus controles de repasses de pagamentos indevidos a um investigado nesta operação policial. Os presos da Lava Jato serão levados à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Cerca de 180 policiais federais cumprem 36 ordens judiciais nas cidades de Salvador (BA), São Paulo (SP), Lupianópolis (PR), Colombo (PR) e Curitiba (PR).

‘Grande corrupção’, diz Moro sobre esquema no governo Beto Richa

Ao autorizar a deflagração da Operação Piloto, o juiz Sérgio Moro observou que o esquema de corrupção supostamente instalado na gestão do tucano ‘não se trata de um crime trivial’.

“Reputo presente risco à ordem pública. O contexto não é de envolvimento ocasional em crimes de corrupção, mas da prática de crimes de grande corrupção e de complexas operações de lavagem de dinheiro”, pontuo o juiz.

‘Eu tiro todos os prefeitos’, diz Beto Richa no grampo

O ex-governador do Paraná e outros seis investigados da Operação Piloto foram grampeados durante uma semana. O tucano teve sete números telefônicos interceptados pela Polícia Federal entre 24 de julho e 1 de agosto.

Segundo a PF, dois números de Beto Richa estavam ativos. O relatório transcreveu três conversas do ex-governador do Paraná.

No dia 29 de julho, Beto Richa conversou com Ezequias Moreira Rodrigues. A ligação durou cerca de cinco minutos. Naquela ocasião, o tucano tentava manter sob competência da Justiça Eleitoral o inquérito dos repasses milionários da Odebrecht.

Após desejar feliz aniversário ao tucano, Ezequias perguntou. “Parou a crise será?”

“Nada”, respondeu Richa.

“Não?”, quis saber o ex-secretário.

“Um filho da puta muito grande”, seguiu o ex-governador.

“Não, cuidado com palavra aqui. Essas porra tão… Eu falei com, liguei inclusive pra governadora, entendeu?”, recomendou Ezequias.

Em outro trecho, Ezequias diz a Richa que havia falado com ‘Glauco’. “Falei: gente, vocês estão maluco, a perda maior é de vocês, porra.”

O tucano concordou. “Claro que é. Eu tiro todos os prefeitos. Vou fazer um artigo dizendo, a manchete é ‘Fui traído’.”

Grampos mostram braço direito de Richa coordenando campanha de forma oculta, diz Lava Jato

O Ministério Público Federal informou que grampos telefônicos apontaram que Deonilson Roldo está atualmente coordenando de forma oculta a campanha de Beto Richa. Segundo a Lava Jato, o ex-chefe de gabinete ‘diz que está em período de quarentena, que não pode aparecer, mas que atua nos bastidores, conforme demonstrado pelas chamadas telefônicas’.

“Deonilson Roldo é homem de confiança de Carlos Alberto Richa, sendo o coordenador de todos os assuntos referentes à campanha de Beto Richa ao Senado Federal, tendo participação na articulação política, definição de material de campanha como músicas e jingles, sessões de fotos, agendamento de eventos e aconselhamento de modo geral, sendo consultado por Beto Richa em várias ocasiões”, apontou a Lava Jato.

“Deonilson Roldo propositalmente está mantendo velada sua cooperação com Beto Richa devido à investigação em curso sobre o recebimento de valores da Odebrecht, que já é de público conhecimento através da imprensa.”

Ao mandar prender o braço direito de Beto Richa, o juiz federal Sérgio Moro anotou que apesar de Deonilson Roldo não ocupar ‘elevado cargo na estrutura do Governo do Estado do Paraná’, ele ‘permanece integrante do mesmo grupo político, com perspectivas de retorno a posição de poder e, por conseguinte, à prática de novos delitos associados à corrupção sistêmica’.

Procurador diz que Lava Jato é ‘apartidária’

O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que a Operação Lava Jato é “apartidária” e que foro privilegiado é obstáculo para responsabilização de políticos.

“Nós não temos essa preocupação (com o partido do alvo), a Lava Jato é uma investigação apartidária. Sempre foi. Nós já tínhamos chegado a pessoas de diversos partidos”, disse Carlos Lima, em entrevista à imprensa concedida pela força-tarefa da Lava Jato, sobre a 53.ª fase da operação, batizada de Operação Piloto – referência ao codinome de Richa nas planilhas da propina da Odebrecht.

Estadão