ODEBRECHT ENTREGA ACESSO A NOTEBOOK DE MARCELO

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Preso desde junho de 2015, o executivo alegava que a senha era gerada por dispositivo eletrônico – token – que ele não sabia onde estava

A Odebrecht entregou nesta semana as chaves de acesso para permitir à Polícia Federal (PF) o acesso ao notebook do herdeiro e ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht. Preso desde junho de 2015, o executivo alegava que a senha era gerada por dispositivo eletrônico – token – que ele não sabia onde estava.A  PF chegou a se queixar com o Ministério Público. Para os delegados era inadmissível que o executivo tivesse conseguido celebrar o acordo de delação premiada sem liberar o acesso do seu computador pessoal. Os investigadores conseguiram obter uma série de informações relevantes para a Operação Lava Jato quando apreenderam o celular de Marcelo. A expectativa é de que os dados do seu notebook, no mínimo, reforcem o que foi dito pelo empreiteiro ou revelem informações a mais. O laptop é considerado uma importante fonte de informação, pois contém e-mails e planilhas do empresário.

Delegados pressionaram a empresa com ameaça de que poderiam indicar ao MPF a necessidade da revisão do acordo de delação caso o acesso ao equipamento não fosse liberado.Para mostrar que está empenhada em colaborar com as investigações e manter o acordo de delação e leniência acertados, a Odebrecht decidiu enviar técnicos de informática para Curitiba, para fornecer o programa e as chaves de acesso que possibilitaram que a Polícia Federal acessasse o computador.

Impasse
Em agosto desse ano, a empresa foi cobrada pelas senhas. O Ministério Público Federal (MPF) pediu que Marcelo fosse intimado para entregar as senhas. Ao ser chamado, o executivo disse à PF que o token gerador dos códigos havia sido entregue a advogados da empresa, mas não foi achado. Marcelo alegava que chegou a pedir a seus advogados que encontrassem o token na época da negociação da delação, mas não conseguiu o equipamento.

A delegada Renata da Silva Rodrigues, em despacho de 7 de agosto, apontou que, se forem verdadeiras as informações prestadas por Marcelo, há “ausência de interesse de agir de forma cooperativa” por parte da empresa e, “em tom mais grave, sugere a atuação de personagens com objetivo de obstruir as investigações”.

Expondo mais uma divergência com o Ministério Público, a delegada considerou “preocupante” que as senhas não tenham sido exigidas como condição para fechar os acordos de delação do empresário e de leniência da Odebrecht. Em nota, a Odebrecht informou que “continua colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Está empenhada em ajudar a esclarecer qualquer dúvida sobre os relatos apresentados por seus executivos e ex-executivos”. “O acordo de colaboração da Odebrecht já se provou eficaz, inclusive com desdobramento em novas investigações e processos judiciais no Brasil e no exterior.”

Além do notebook, os HDs

Além de conseguir desvendar as senhas e as informações do notebook de Marcelo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) precisará analisar cinco HDs encaminhados pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Os procuradores do Paraná receberam os dispositivos da Odebrecht há um mês, mas a equipe do atual procurador-geral, Rodrigo Janot, não conseguiu analisá-los a tempo, em razão do enorme volume de dados. Será uma missão para a equipe comandada agora pela nova procuradora, Raquel Dodge.

Nos HDs estão as informações do chamado sistema Drousys que a Odebrecht pode ter eliminado em transferência do sistema da Suíça para a Suécia. Há ainda o My Web Day, que fazia a contabilidade paralela do setor de propina da empreiteira, além de registros sobre transações do Meinl Bank, um banco comprado pela empresa para abastecer contas no exterior e pagar suborno.

Memória gigantesca 

A gestão de Rodrigo Janot desenvolveu sistemas de busca, perícia e recuperação de dados que levaram à produção de diversos relatórios baseados nas informações que transitavam pelo Drousys, contidas em uma primeira leva de HDs remetidos a Brasília pelo grupo de Curitiba, em março. Os documentos gerados embasaram pedidos de abertura de inquérito formulados a partir da delação premiada dos executivos da Odebrecht, especialmente sobre caixa dois distribuído a políticos.

Desta vez, os cinco novos HDs têm uma memória gigantesca e o trabalho de perícia não será concluído na gestão de Janot, que deixa o cargo de procurador-geral no próximo dia 17. Raquel assume no dia seguinte, e caberá à equipe da nova procuradora-geral remontar os sistemas, indexar os documentos, criar um ambiente de pesquisa por nomes e produzir relatórios que são vistos como decisivos para novas frentes de investigação da Lava-Jato.

O Drousys era um sistema paralelo de registros de informações: operadores de propinas na Odebrecht faziam registros das operações num ambiente hospedado na Suíça, posteriormente transferido para a Suécia. Dentro do acordo de delação, a empreiteira contratou uma empresa forense que fez a extração dos dados hospedados em território sueco, fornecidos em seguida à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.

Os procuradores passaram a enviar os HDs à PGR, para o trabalho de perícia conduzido pela Secretaria de Pesquisa e Análise. A remontagem dos sistemas e recuperação de dados a partir dos primeiros quatro dispositivos consumiu três semanas, com geração de relatórios que serviram a inquéritos autorizados pelo STF já no mês seguinte. A expectativa da força-tarefa da Lava-Jato é que a perícia dos novos cinco HDs leve entre seis e nove semanas.

Janot colocou os casos da Odebrecht como prioridade, mas ainda não conseguiu fazer as denúncias relacionadas a caixa dois. A uma semana do fim de seu mandato, caberá a Raquel Dodge decidir se seguirá a mesma estratégia